terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A curta história de Sandrinho (3ª parte)


Voltei para Curitiba com meu coração transbordando de Amor e agradecendo a Deus por ter-me ajudado a resolver pelo menos em parte meus compromissos de mãe ,esposa, dona de casa e empresária.
Cheguei a tempo para que minha querida irmã pudesse pegar o ônibos de 17 horas para Florianópolis.
A cirurgia foi marcada para dois dias depois...minha anciedade era muito grande. As sete da manhã vieram buscar meu nenêm e eu fui direto para a capelinha , eu não conseguia mais rezar, então pedi a meu Anjo da Guarda que mais uma vez me ajudasse. Me sentei no banquinho da capela, segurando a cabeça entre as mãos ; Ouvi bater o sino de meio dia e de repente entram duas freiras, ajoelharam-se a minha frente, depois mais uma que se ajoelhou a meu lado, fez sua oração e depois devagarinho colocou sua mão em minhas costas e falou baixinho-----"vamos mãe , vamos descançar e esperar seu bebê , Nossa senhora estará sempre do teu lado...tudo vai ficar bem." Encorajada por estas palavras voltei para o quarto e fiquei esperando.
O Sandrinho só voltou a noitinha, e tudo parecia normal,a cabecinha estava bem menor . Enquanto ele ainda dormia ,na manhã seguite, fui lavar as roupinhas. Como não havia um lugar para lavar e era proibido pendurar roupas no quarto´,eu lavava na pia e para secar ,no quarto ao lado a janela abria para um espaço de uns dois metros mais ou menos, eu pulava a janela e estendia nos galhos de uma árvore (naquele tempo ainda não existiam fraldas descartáveis nem varal como temos agora) Quando a enfermeira veio dar o remedinho, contei a ela sobre o que a freira havía me falado, e por isso eu estava mais tranquila. Chegou o quinto dia da cirurgía, o médico veio tirar os pontinhos e me falou que para o meu bem , o bem de minhas outras filhas ia me dar alta.
Não entendi direito ..!!! e para o bem de meu nenêm? Fiquei sem resposta.....Mais tarde vieram tres sras , para conversar comigo, tudo estava muito estranho...reclamei da atitude do médico e a mais velha falou---Ele está muito preocupado ; sobre aquela história de que uma freira conversou com a Sra. "Não existem freiras aqui"!!!! ----como não??!!! eu falei--sempre que vou a capela tem duas ou tres rezando?? Fui saber então que o médico era ateu e que para ele...eu estava ficando "doente" e minhas outras filhas precisavam de mim. Fiquei indignada, furiosa até,isto era covardia da parte dele. Mas só o fato de ter deixado meu filho nas mãos de quem não confia em Deus me fez vir lágrimas e só então chorei....uma dor enorme em meu peito pedindo perdão a meu filho . Mansamente arrumei nossas roupas, telefonaram para meu ex marido vir me buscar....A Diretoria não nos cobrou nada .....o que eu mais queria era levar minha criança embora.....Continua




"Relembrar fatos e acontecimentos que nos fizeram sofrer, é como fazer sangrar uma velha ferida, por isto demorei um pouquinho para continuar a história de meu Sandrinho".

Voltamos para casa em silêncio, a dúvida e o medo de perder mais um filho, tomara conta de nossos pensamentos. Nada, nenhuma palavra dita , podería amenizar nossa dor. Ainda assim...eu tinha esperânças de que com meu amor eu podería ajudar meu bebê a superar tudo isto, e que os catéteres voltassem a funcionar, drenando o líquido para outras cavidades do corpo e diminuindo assim o escesso de líquido dentro dos ventrículos.

Fazia muito frio na cidade em que moravamos, e precisava mante-lo juntinho de mim para aquece-lo.
Uma semana depois e Sandrinho não apresentava melhoras, ja não sorria quando eu me aproximava,parecia ja não me ver.
Fomos visitar outras familias, com crianças que tinham o mesmo problema. Havia um menino que ja estava com seis anos e até aprendendo a ler!!! Eu ficava imaginado,meu Sandrinho no futuro e minhas forças renovavam.

Foi quando conheci "Espiritismo".
Quem ja passou por isso, sabe ; "Procuramos o apoio da família, dos amigos, da religião, de qualquer tipo de apoio que nos oferecem.
A dor de perder um filho é terrivel, é dilacerante,não tem como descrever, eu sabia disso, ja perdera uma menina e não teria forças para passar de novo .
Não existe, em nenhum idioma, uma palavra para definir a morte de um filho. 'É uma dor que não tem nome, algo que não se espera.'

Apesar de todos meus esforços, de minhas orações de meus apêlos á Nossa Senhora Aparecida, chegou a hora de meu Sandrinho partir.
Certa noite, (passava as noites praticamente acordada), toquei no Sandrinho e estava muito gelado..acordei meu ex marido e pedi que fosse á cozinha para fazer fogo no fogão para ajudar a aquece-lo. Meu marido não tinha muita prática e falou;
--eu seguro o bebê e vc faz o fogo...coloquei a lenha e ele falou novamente:
--Mãe....o Sandrinho morreu!!!
Não!!!-- ele só está gelado de frio !!!
----Acabou de dar o último suspiro agora !!

Choque, depressão, revolta, impotência, sensação de fracasso, negação, raiva, culpa, angústia, todos estes sentimentos em apenas um segundo.

E foi assim a Curta história de meu Sandrinho.


Dezesseis anos mais tarde ,perdi novamente outra filha, com 20 anos de idade,Chamava-se "Sinara"..mas esta é uma outra história.
...minha vida não foi somente de tristezas e tenho muitas outras histórias para contar: Afinal...... "MINHA VIDA É UM SHOW FANTÁSTICO" (palavras de minha grande amiga Negra)

Quem vive a perda não volta a ser a pessoa que era antes, porque a morte altera valores e hábitos.

"Aceitar a perda" é uma arte que deve ser aprendida e praticada por todos que desejam viver uma vida sadia e equilibrada... As perdas nao foram feitas para nos derrotar. Elas servem como oportunidades de Deus para abrir novas portas, novos horizontes.

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